Assunto voltou às pautas dos jornais e redes sociais devido à questão do impeachment
Oano de 2016 tem sido marcado pelas notícias sobre o impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff. E, embora alguns considerem legítima essa manobra, outros já têm comparado o momento ao golpe ocorrido em 1964. Mas, afinal, o que aconteceu depois daquele ano e o que levou à tomada do poder pelos militares há mais de 50 anos?
De maneira bem simples, o chamado golpe militar de 1964 foi a sucessão de eventos políticos que ocorreram após a renúncia do presidente Jânio Quadros. A insatisfação com o governo de seu sucessor, João Goulart, encadeou um movimento liderado por grupos de militares.
No dia 31 de março de 1964, com o apoio de alguns setores da sociedade, esses integrantes da elite das Forças Armadas conseguiram chegar ao poder, tirando Goulart da presidência. A partir deste momento até 1985, perduraram no Brasil mais de 20 anos de ditadura, sem eleições diretas.
Fatores que contribuíram para o golpe militar
Embora muitos culpem a ineficiência do governo de João Goulart, essa não foi a única razão para os militares tomarem o poder. Na verdade, muitos historiadores têm atribuído outras causas para esse evento:
- A criação da Escola Superior de Guerra (ESG), em 1949, começou a inserir questões políticas na preparação dos militares. Isso fez com que, cada vez mais, esses integrantes pensassem em uma política própria das Forças Armadas. Com o tempo, este grupo foi se tornando mais politizado e havia essa intenção de ganhar mais protagonismo no cenário político brasileiro.

Escola Superior de Guerra (ESG)
- Os militares já vinham sendo usados em diversos momentos para dar legitimidade a alguns movimentos, como foi o caso do golpe de estado de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder e que costuma ser chamado de “revolução”. Em 1937, na instituição do Estado Novo, lá estavam eles novamente. O varguismo não teria se sustentado sem esse grupo.
- Na época havia a Guerra Fria, com a rivalidade entre Estados Unidos e a União Soviética. Dentro desse contexto, o governo americano considerava como ameaça todas as medidas que fossem contra seus interesses econômicos. Também considerava uma ameaça políticas populistas que pudessem se alinhar aos soviéticos. A revolução que houve em Cuba (com a tomada do poder por Fidel Castro), fez com que os Estados Unidos procurassem evitar a qualquer custo o surgimento de novos regimes comunistas no Ocidente. Para eles, a política de Goulart, que foi se tornando cada vez mais populista, logo poderia fazer o Brasil passar por uma revolução, como a de Cuba. E assim pensava também a direita conservadora no Brasil.
Portanto, foi uma junção de diversos fatores. Desde o fim da Segunda Gerra (1945), a ameaça comunista estava entre as questões centrais dos militares. O azar de Goulart foi que ele trouxe isso à tona e a propaganda intensa ajudou a trazer gente para apoiá-los.
Os militares tentaram outros golpes?
Com essa questão da política das Forças Armadas, aconteceram ainda outras tentativas de golpe militar. Mas, até aquele momento, todas tinham sido malsucedidas.
Após a morte de Getúlio Vargas, em 1954, Café Filho, seu vice, assume e sofre com as investidas dos militares. O mesmo ocorre quando Juscelino Kubitschek é eleito, em 1955. Não queriam deixar que ele assumisse.
É quando ocorre, em novembro daquele ano, o chamado golpe preventivo do Marechal Lott. Isso permitiu que Juscelino terminasse seu mandato e que ocorressem as próximas eleições, que elegeram Jânio Quadros à presidência.
Por que o golpe conseguiu prosseguir em 1964?
Militares defenderam novas eleições. Após quase oito meses no poder, o presidente Jânio Quadros, que tinha sua plataforma política baseada no ato de “varrer” a corrupção do país, renuncia. Então, em agosto de 1961, o vice-presidente eleito, João Goulart (PTB-RS), mais conhecido como Jango, entra em seu lugar.

João Goulart (Jango) – presidente deposto no golpe de 1964
Curiosidade
Com Jango no poder, os militares começaram a provocar que fosse feita uma nova eleição. Eles alegavam que o novo presidente era fraco e que traria a ameaça comunista para as decisões do país. Como ele continuou na presidência, a solução foi tentar derrubá-lo colocando o povo contra ele.
Propaganda reforçada contra Jango. A criação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) foi fundamental para que a propaganda anti-Jango começasse a fazer efeito.
Parlamentarismo pela primeira vez. Os militares só não tomaram o poder nesse período porque eles pressionaram a instituição do parlamentarismo. Com isso, os poderes de Jango foram reduzidos.
Estados Unidos dão apoio. O golpe teve grande contribuição do governo norte-americano. Como Jango havia aderido a uma política externa independente e estreitado os relacionamentos com Cuba, os Estados Unidos passaram a considerá-lo como uma ameaça. E, assim, foi fácil tirá-lo do poder.
Reformas de base de Jango desagradaram. Outra questão que levou ao golpe foram as chamadas reformas de base de Jango, que previam medidas para controlar a inflação. No entanto, o problema foi a forma radical como o presidente tentou impô-las. Isso não deu certo.
Promessa de entrega do poder aos civis. No dia 1º de abril de 1964, Jango foi deposto e o chefe do Exército, general Humberto Castelo Branco, torna-se o novo presidente do Brasil. A promessa naquele momento era de que o governo seria entregue em breve de volta aos civis. No entanto, esse “breve” durou 21 anos.
- Tanques circulando nas ruas do Rio de Janeiro, concretizando a tomada do Governo pelos militares.
- Jornal O Globo promovendo amplo apoio ao golpe
- Outra edição de O Globo, apoiando o golpe
Quais foram as consequências do golpe de 1964?
Durante esses 21 anos, os militares impuseram um regime ditatorial rigoroso e radical. Além de não haver mais eleições diretas, houve o chamado bipartidarismo, já que não era possível haver novos partidos políticos além da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e do Movimento Democrático Brasileiro. (MDB).
Repressão e violência marcam o período. As capitais e maiores cidades do Brasil foram tomadas por soldados armados e tanques de guerra. As sedes de partidos políticos e de alguns sindicatos foram tomadas pelos militares. E houve uma grande repressão a determinados movimentos contra o governo daquele momento.
A partir do ano de 1965, os cidadãos foram cada vez mais perdendo seus direitos. Os jornais e artistas passaram a ser censurados. A tortura virou prática comum. E a vigilância era constante. Realmente, foram anos bem sombrios.
A falta de liberdade era clara. E, mesmo com as opiniões divididas sobre o pós-impeachment, ninguém espera que isso se repita tão em breve. E, ao que tudo indica, não devemos caminhar para algo tão extremo.